A lua sorriu-me
desgraçada, zombava de mim enquanto escorria, derretia, quase morto pelas ruas
degradadas, irregulares. O meu corpo definhava, cada passo abanava o mundo
visto pelos meus olhos, lançando as pálpebras ao chão, cobrindo-me a face,
descaída. Os pés, partidos, já sem nervos, para que não sentisse dor, batiam em
qualquer pedra que se colocava naquele meu caminho. As minhas mãos enrolavam,
abraçavam o meu corpo infeliz e permaneciam desse mesmo modo, enroladas,
pobres.
Havia quem passasse por mim, corresse, paralisasse ou se
encolhesse, com medo do que via, tendo receio que eu lhe agarrasse ou
caminhasse na sua direção. Como se pudesse… se pudesse… Mas não posso, por isso,
apenas caminho, escorrendo, deteriorando, voltando ao pó que me havia sido
prometido desde a altura da minha concepção.
Sorte nº17, Nameless
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"Posso não concordar com uma só palavra tua, mas defenderei até a morte o teu direito de dizê-lá."__ Voltaire