Eu e eu... Eu e a folha em branco...
Minha gente, vamos escrever. Olhar para um cursor que nada mais faz do que
um truque de magia de surgir e desaparecer. Ou para as linhas de uma folha solta
ou de um caderno encontrado no fundo do baú ou comprado no supermercado mais
próximo, com o propósito de ser preenchido com o próximo bestseller.
Para aqueles que estão atentos ao mundo literário, coisa que não me tem
fugido da vista, podemos entender que mais de meio mundo escreve e que, metade
deste meio mundo, é editado. Metade da outra metade espera por ser editado e a
metade restante, deseja, mas nem tenta ser editado. Depois, a outra metade do
mundo, ou espera que saia um livro, para que o possa ler, ou então, deseja que
cada um faça o seu trabalho, desde que não receba uma obra numa época festiva.
Assim é. Pura verdade, eu é que me esqueço de pensar nisso todos os
dias. Pessoas, é certo: hoje em dia, escrever, é banal. Simples,
aborrecido e banal.
Antes do surto vampiresco, angélico e demoníaco (interrogo-me se o segundo
assim é citado), ainda se falava da necessidade de talento, trabalho, empenho.
Agora... Por favor... Cadê? Cadê o talento? E o trabalho? E a
certeza do empenho? Minha gente, deixem-me dizer-vos: sumiram! Ou então andam
desaparecidos, escondidos, na sombra do que mais se vende. Ou ainda, nem viram
a luz do mundo editorial.
Escusado será dizer que o que é de qualidade para mim, não serve para os
outros e vice-versa. Como Crepúsculo. Odeio Crepúsculo. É uma história sem
grande conteúdo. Um amor mais instantâneo que aquela maldita sopa comprada em
último recurso, naqueles dias em que a fome aperta. Onde a ideia do amor impossível
é bastante possível. Onde o terceiro membro para o triângulo amoroso entende
que, afinal, não deveria desejar a mãe, mas sim a sua filha, uma criança.
Esta obra levou-me quatro dias penosos e as seguintes não foram melhores.
Embora os seres sobrenaturais já fossem conhecidos antes dos grandes fenómenos,
entendo cada vez mais que os novos autores não vão mais longe do que aquilo que
é atualmente publicado. Devo estar inscrita em três fóruns e uns quantos sites
e grupos de literatura e escrita. E, cada história lida, soa como o desejo do
que gostava de acontecesse no livro M ou H. Isto deixa-me louca. A sério.
Adorava ler um livro recém-publicado e não adivinhar o meio e o fim através da
sinopse ou do maldito início que é representado pela chegada ou a saída de alguém
de um determinado lugar.
No Facebook, faço parte de um grupo literário, onde vários escritores e
leitores falam entre si, discutem obras e fazem publicidade de outras. Aí,
conheci um par de autores não publicados, fãs do fantástico. Contudo, aquela
que me chama mais a atenção, é a que tem três livros escritos. Um publicado
pela Corpos Editora, outro por conta própria e ainda um que ainda não viu a luz
do dia. Este último, depois de pensar e repensar sobre o seu conteúdo,
pareceu-me uma ideia refeita de Hush Hush com Twilight e outros livros do mesmo
género. A paixão obsessiva, o rapaz misterioso, o triângulo amoroso, incidentes
e perigos – que não são tão perigosos. E, para dar um ar dramático, a coragem
de morrer por aquele ser não humano e provavelmente morto que mal conhece – ao que
parece, os adolescentes morrem por alguém que, primeiramente, os despreza e só
depois os “ama”. Isto tudo em duas
semanas.
É minha gente, com tanta inspiração e qualidade em nosso redor, para quê
demorar mais do que um ano a escrever uma obra? Afinal, já ninguém quer
embrenhar-se num livro e parecer que não está no mundo real, queremos saber
como quem é que a personagem principal vai escolher no final: o primeiro amor,
super lindo, querido e sexy, ou o segundo, super lindo, fofinho e ainda mais
sexy. (Pois… amo o meu cinismo.)
Para quem não sabe, pois nunca disse, desejo trabalhar no mundo editorial.
Logo, daqui a uns anos, poderei ter em mãos o vosso manuscrito. Escritores,
oiçam-me, ou melhor, leiam-me: O mundo literário, pelos comentários dos
editores e a opinião pública, resume-se, muitas vezes, em conquistar fãs,
através de uma obra que nos leve além do imaginável. Escrever bem, já é um
ponto positivo, ser original, é um dos pontos cruciais. E sim, desta vez peço
novos Dan Browns, novos Saramagos (neste campo tenho de desejar boa sorte),
novas Alices Vieiras, com capacidades de conquistar o público mais novo, e, se
assim quiserem, novos Rowlings e Tolkiens. Podia deixar-vos aqui uma grande
lista de escritores que prezo. Tanto nacionais como estrangeiros – algo que
posso fazer noutro post, se assim tiver paciência.
Todos os dias leio e critico. Se não é no blog, é para mim mesma, se não é
para mim mesma, é para um fórum, se não é para um fórum, é para um escritor que
pediu uma opinião e assim sucessivamente até não ter nada a dizer. – Mentira,
porque, se um dia ficar sem palavras, significará que morri. E mesmo assim
terei as minhas dúvidas. – Como leitora, exijo suor, desespero e lágrimas da
vossa parte, escritores. Quero ver-vos a alargar os malditos horizontes que não
se alcançam, para quem não sabe isso. Exijo um livro que me faça chorar e não
me venham com Nicholas Sparks que eu escrevo um testamento sobre a bipolaridade
que sinto sobre este escritor.
Terminando, leitores/escritores, não acompanhem somente as massas. Há muito
mais para ler e redigir. Vampiros simpáticos e em transformação e fantasmas com problemas
de identidade não são exatamente o que faltava na nossa vida literária. Não a
tempo inteiro.
Sorte nº17, Nameless
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"Posso não concordar com uma só palavra tua, mas defenderei até a morte o teu direito de dizê-lá."__ Voltaire