terça-feira, 13 de novembro de 2012

306# Ad Vindictam: Ele - 5#


Desço a maldita rua esburacada, é pior do que um queijo suíço. Engraçado, conheço esta expressão, mas nunca vi um queijo com tantos buracos. Rio-me para mim mesmo e abano a cabeça. Quem passar por mim pensará que sou louco, e não sou.
A minha casa fica ao virar da esquina. É num daqueles prédios com escadas de incêndio no exterior. Gosto de subi-las, de demorar-me a chegar, fazer tilintar as chaves e escolher a correta.
Ao chegar à porta, vejo cabelos longos de esvoaçam com o vento. Reconheço aquele emaranhado volumoso e sinto-me obrigado a parar, a fitá-la.
Acaba de saltar dos últimos degraus das escadas de incêndio, olha em seu redor e estaca ao olhar para mim. Encara-me com rudeza e caminha na minha direção. Tento impedir-lhe a passagem, no entanto, ela empurra-me com brutidão e faz-me tombar para o lado.  Endireito-me pouco tempo depois e sigo-a pela rua. Ela não corre, anda a uma velocidade chamativa. Porém, eu corro, pois a distância a entre nós mostra-se imensa. E, além disso, se a deixar escapar, jamais saberei o que é que esteve a fazer em minha casa. Não antes de lá entrar.
Corro atrás dela e agarro-a. Puxo-a pela camisola, mas ela volta-se e dá-me um murro na cara. Tombo para trás, mas logo recupero o equilibro.
O que é que aquela tarada fez?
Volto a correr atrás dela, tenho de a apanhar… e apanho. Prendo-a bem, ali, no meio da rua, com pessoas a passar. Olham e desviam o olhar, devem achar que é uma briga de namorados. Bem… acho que a nossa discussão pode ser definida desse modo.
- O que é que fizeste?
- Nada que não deveria ter feito há muito tempo!
Debate-se entre a parede e o meu corpo. Tenta empurrar-me, pontapear-me, morder-me, puxar o cabelo. Sem preconceitos ou estereótipos, mas ela luta como uma mulher.
- Se eu fosse a ti – cuspiu com algum nojo de mim –, em vez de ficares aqui preso comigo, ia ver a tua outra namoradinha. Ela precisa de uma cara nova.
Volta a revoltar-se, até que consegue soltar-se minimamente. Empurra-me e ataca-me com um golpe baixo. Uma velha jogada que funciona sempre.
Então solto-a, vejo-a respirar de modo ofegante e a afastar-se. Deixo-a ir sem dizer mais nada, ela sabe que não pode fugir de mim.


Dance, Nameless

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"Posso não concordar com uma só palavra tua, mas defenderei até a morte o teu direito de dizê-lá."__ Voltaire