A Eva é muito trabalhadora.
Para cima e para baixo. Os seus passos eram ouvidos por toda
a gente, porém, eram apenas os seus passos. Enquanto alguns reclamavam,
distraídos dos seus dias e problemas, Eva encontrava-se de cabeça posta nas
suas pastas, documentos e assinaturas Era sabido que ela não bebia café, não
repousava e que almoçava em cinco minutos, entre telefonemas e apontamentos
para reuniões.
O que passaria por aquela cabeça, para além de trabalho?
Teria uma vida para além daquilo? E filhos? Aproximava-se com certeza dos trinta
anos, talvez tivesse alguém. Ou um gato.
Enquanto corria apressada, a hora de sair chegou, finalmente.
Muitos arrumaram as suas secretárias, desligaram os seus computadores e
procuraram pelas chaves dos carros ou as carteiras, ao fim de encontrar os
passes, para apanhar o autocarro de volta à casa. Eva, por sua vez, sentou-se e
esperou mais dez minutos, em silêncio, fitando uma folha em branco. respirou
fundo, organizou as pastas, umas em cima das outras, por ordem de importância
para o dia seguinte e saiu. A sua casa era ali perto, por isso, seguia até ela a
pé. No entanto, era a louca caminhada pela rampa, de roupas suadas, as pessoas mostravam-se
incomodadas pelo seu odor, contudo, ela mal se importava, estava quase a
chegar, tomaria um banho e sentar-se-ia quieta, relaxada por saber que podia
dormir.
O seu prédio era azul claro, quase branco de tão gasta a cor,
não possuía elevador e ela habitada o terceiro andar. Com um pé a frente do
outro, foi subindo vagarosamente, sentindo por fim o peso do dia nas pernas.
Farta, livrou-se dos saltos altos, atirou-os escadas acima e seguiu,
confortável. Em seguida, já só lhe faltava o banho, nem fome tinha. Já era tarde, sonolenta, deitou-se na
cama, olhou para o lado e sorriu abertamente. Ali, ao seu lado, pequeno, frágil
e por crescer, estava o motivo do seu empenho. Não deveria ter mais de sete
meses, porém, soava-lhe como toda a sua vida. Soprou-lhe baixinho o rosto e sussurrou
uma canção de embalar. Entrementes, a porta da rua bateu, era a ama que
abandonava a casa, para caminhar para a sua. Agora, apenas faltava.lhe dormir, todavia, isso não era um problema, mas sim uma dádiva.
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"Posso não concordar com uma só palavra tua, mas defenderei até a morte o teu direito de dizê-lá."__ Voltaire