A minha mãe é uma pessoa muito simpática, contudo, tem as suas paranóias e os seus medos em relação ao que as outras pessoas dizem e pensam. Antes de tomar uma decisão, matuta sempre sobre a reacção dos outros e, somente mais tarde, é que age.
Essa sua pequena faceta, faz com que não seja uma pessoa tão solta quanto gostaria de ser.
Para que compreendam o que digo, hoje a tarde, a minha irmã disse que ia acampar para casa de uma amiga dela, pois um dos seus grandes amigos vem à Portugal e vai ficar na mesma casa para onde ela vai durante uma semana. Desse modo, é possível estarem os três juntos e divertirem-se sem terem de se deslocar de um lado para o outro. A melhor parte disto, é que a casa da amiga da minha irmã fica a vinte minutos da minha, a pé. Todavia, como estava um primo da minha mãe cá em casa, ela ficou aborrecida pois ele poderia comentar que a minha irmã ia para casa de uma amiga acampar com um rapaz.
Mas que raio! Há coisas que nem me passam pela cabeça.
A minha primeira pergunta é: O que é que as outras pessoas têm a haver com a vida da nossa família? Ainda mais no meu bairro, em que que ninguém, mas mesmo ninguém se deveria atrever a falar de quem quer que seja da minha casa, muito menos de mim e das minhas irmãs. Isto, porque, para definir as raparigas daqui há uma simples palavra: quengas.
É ofensivo? Sim, é. Se deixa de ser verdade... Não, não deixa. Infelizmente, não é.
E, no meio do sermão da minha mãe, eu virei-me para ela e disse: Então, assim sendo, estou lixada, que não me dou com raparigas e, sempre que alguém daqui do bairro me vê a passear ou simplesmente a andar na rua, estou com um rapaz.
E isto é verdade. Creio que já tinha dito que tenho poucas amigas e que, aquelas que tenho, são escolhidas a dedo. Já tive diversas desilusões e cheguei a um ponto em que me vi obrigada a dizer chega.
E eu teria explicado à minha mãe que as pessoas podem falar à vontade, porque é a única coisa que sabem fazer em relação à vida dos outros. E podia ter-lhe explicado que amigos são amigos e que as pessoas nunca verão a diferença entre a amizade entre um homem e uma mulher e um namoro.
E, como ela simplesmente terminou com a conversa sem querer escutar, eu estou mesmo voltada para a ideia de quem nem quer saber do que os outros vão dizer.
Enquanto os meus amigos quiserem andar de mãos dadas no meio da rua, fá-lo-ei de bom grado. Se sentirem vontade de me abraçar e pegar ao colo, não irei dizer não a nada disso. São os meus meninos, pessoas em quem acredito e confiaria a minha vida, se assim fosse necessário. Por isso, se as pessoas do meu bairro, que nem o meu nome sabem e conhecem-me como "a filha de sabe-se lá quem" , quiserem falar sobre mim e a minha vida privada, estão à vontade. E, se sentirem vontade, podem pedir-me pormenores, é que eu adoro quando puxam pela minha arrogância e má educação.
Com a típica impaciência de uma adolescente aborrecida,
Valentina